A PROBLEMÁTICA DO GÊNERO LITERÁRIO A PARTIR DO SÉCULO XX: FRAGMENTAÇÃO, MOBILIDADE E (DES)INTEGRAÇÃO

Beatriz Pazini Ferreira (UEM)

Maiara Cristina Segato (UTFPR)

 

O simpósio apresentado deve concentrar-se no estudo da problemática do gênero literário, a partir do século XX, visando discutir o romance como um gênero em devir, em constante transformação, aberto ao novo, à diversidade, o que comprova sua vitalidade no mundo moderno, uma vez que reflete em si a evolução da própria realidade. Embora se trate de um gênero inacabado, desde o período clássico grego, séculos V e VI a. C, Platão e Aristóteles já se preocupavam com a definição do papel da arte em relação à categorização literária, da qual a sistematização inicial do fenômeno literário feita por Platão, nos livros III e X de A República, divide a literatura em poesia dramática, lírica e épica. A Poética, de Aristóteles, constitui a primeira reflexão profunda acerca da existência e da caracterização dos gêneros literários e ainda hoje permanece como um dos textos fundamentais sobre esse assunto. O Romantismo marca o fim da ideia de gêneros puros, ou rígidos, ao contestar as noções clássicas e propor a mistura entre eles. Assim, podemos notar que, muitas vezes, o lirismo e seus desdobramentos podem difundir-se na tessitura da prosa. Em Iracema, por exemplo, há muitas analogias, como quando a índia é comparada a elementos da natureza, então a associando ao próprio espaço natural brasileiro. Com o advento do Modernismo, o romance continuou modificando-se, em razão da ideia de liberdade estética que fez o homem externalizar suas inquietações. A angústia moderna, consequência de um sujeito desdobrado, perdido, desorientado, inclusive pelos conflitos gerados pelas guerras, abre os caminhos da criatividade. O contexto histórico e social cada vez mais dinâmico e diversificado modifica o gênero, impõe aspectos que interferem em sua composição. Nessa ordem de ideias e avançando nas reflexões, podemos apontar para um hibridismo categorial, talvez resultante das angústias modernas, que são reflexos de uma sociedade marcada por incertezas, pela sensação de uma inalcançável busca de um mundo compreensível. De alguma forma, as angústias da contemporaneidade evidenciam um processo de criação e de aceleração dos diálogos entre os diversos gêneros e a linearidade narrativa, que implicava início, meio e fim, se desarticula. Os gêneros literários estáveis foram deixando de dar conta desse mundo cada vez mais instável. Há um exemplo, a propósito, na literatura portuguesa. A personagem Gabiru, de Húmus, se encontra em um mundo esfacelado, por isso mesmo, indaga sobre a vida e o que há depois dela, necessitando, assim, da poesia para expor seus sentimentos mais profundos. Nesse sentido, emerge a dificuldade para se definir estaticamente os gêneros, visto que passam por mudanças ao longo do tempo, chegando até a apresentar características de outros. De fato, as literaturas modernas são reflexos de uma sociedade marcada por incertezas. Consequentemente, o sujeito inserido nesse contexto é marcado pela descontinuidade, pela fragmentação e pelo deslocamento, não possui uma identidade fixa ou permanente. Assim, o discurso literário também se encontra em processo de fragmentação, de mobilidade e de (des)integração. Tendo isso em vista, o presente simpósio pretende reunir pesquisas relacionadas à obras literárias que trazem em seu bojo a problemática dos gênero literários, a partir do século XX, bem como as transformações estilísticas, composicionais e o hibridismo categorial.

Palavras-chave: modernidade, gênero literário, hibridismo.