LITERATURA LATINO-AMERICANA: PERSPECTIVAS COMPARATISTAS

Cristian Javier Lopez (UVIGO/Espanha)

Adenilson de Barros de Albuquerque (IFPR)

 

Os estudos sobre Literatura Latino-americana, realizados por pesquisadores brasileiros, geralmente aparecem associados a obras e escritores de língua hispânica reconhecidos. Isso, talvez, pode encontrar explicação nos pressupostos da nossa formação literária acadêmica que tende a sugerir, por vezes até impor, as bases de um olhar para a “literatura nacional brasileira” construído especialmente a partir do século XIX. Este simpósio, entretanto, busca o diálogo entre obras com base nos estudos comparados que contribuam para a leitura das produções latino-americanas, e não somente hispano-americanas de autores renomados. Pensamos nisso com o intuito de alargar perspectivas que se estendam para além das fronteiras imaginadas dentro dos limites territoriais definidos, sem centros nem periferias (COUTINHO, 2003). Alguns estudiosos latino-americanos – como Antonio Candido, Arturo Uslar Pietri, Silviano Santiago, Vargas Llosa, Fernando Aínsa, Zilá Bernd, entre outros – propuseram, a partir da segunda metade do século XX, alternativas críticas, e também alguns conceitos operacionais, que nos ajudam a conhecer e interpretar, de maneira menos reducionista, a história hegemônica e as sociedades latino-americanas em suas diversidades. A produção literária nesse contexto sempre foi campo fértil para as representações no qual se pode chegar, inclusive, aos discursos considerados oficiais e, por vezes, às “denúncias” relevantes quando estas são elaboradas pela arte ficcional que desafia o poder instaurado e dá voz às classes subjugadas para revelar perspectivas antes escamoteadas. Estas representações provocadoras de novos olhares já não estão preocupadas em reproduzir tendências totalizadoras, influenciadas, principalmente, por diretrizes estrangeiras, mas mostram-se dispostas a desvelar a heterogeneidade criadora de nossa formação cultural híbrida, mestiça, sincrética, plural. Assim, levando-se em conta que na América Latina não há uma identidade porque temos todas elas (VARGAS LLOSA, 2006), queremos propor um debate sobre a produção literária latino-americana em que apareçam diferentes temáticas e perspectivas sócio históricas. Nesse sentido gostaríamos de acolher, especialmente, aquelas propostas de estudo voltadas às obras que trazem à baila as problemáticas das releituras do passado pela ficção, aquelas nas quais se busca a representação de classes menosprezadas ao longo do processo histórico colonizador e, ainda, aquelas que investiram na diferença como valor diferenciador de nossa expressão literária artística produzida no entre-lugar do discurso latino-americano (SANTIAGO, 2000).

Palavras-chave: literatura comparada, América Latina, entre-lugar.